Samba em Berlim - parte II

Continuando a  postagem dos 75 anos do fim da segunda guerra mundial traçamos aqui uma linha sobre o surgimento da mistura de cachaça e coca-cola, e outras influências que a guerra teve sobre nosso consumo e vidas, para acompanhar a parte I é só clicar aqui.


Além da guerra, a música foi uma arma importante para o animo dos pracinhas 


Luiz de Barros e o Cinema Nacional

Luiz de Barros (1893-1982) era diretor, ator, roteirista, produtor. Lulu Barros como era conhecido possuí  a maior filmografia do cinema nacional, na década de 40 gravou muitos filmes dois deles com relações diretas ou indiretas com a segunda guerra mundial.

O primeiro filme é uma comédia musical de 1943 chamado Samba em Berlim estrelado por Dercy Gonçalves e em 1944 foi lançado Berlim na Batucada uma chanchada como era conhecido na época os filmes de comédia musical com caráter popular e um humor ingênuo, o filme também contou com a participação de Grande Otelo.

Berlim na Batucada faz uma conexão subentendida da vinda de Orson Welles no Brasil com título alusivo a segunda guerra mas pouco é comentado sobre isso ao decorrer do filme. 

Segundo o livro Cinema Carioca dos anos 30 e 40: Os filmes musicais nas telas da cidade escrito por Suzane Cristina de Souza Ferreira em 2003 esses dois filmes exploram tanto a II guerra mundial quanto a política da boa vizinhança do Presidente Rooselvet.
Esta foi muito mais que umas estratégia contras as forças do Eixo. Era estratégia de conquista do mercado latino-americano.



Cartaz do filme de 1943

Orson Welles

Welles é muito conhecido pelo clássico Cidadão Kane (1941) e também por levar ao ar em 1938 uma versão radiofônica de "Guerra dos Mundos", uma história sobre invasão extraterrestre, naquele tempo a população achou mesmo que estava sendo atacada  por alienígenas. 

Orson Welles (1915-1985) Ator diretor e roteirista a história dele com o Brasil se inicia quando a convite do governo dos Estados Unidos (aqui de novo as práticas da política da boa vizinhança aparecendo) Welles é contrato para filmar e mostrar as belezas que os países do continente americano possuíam, com sua chegada em 1942 e com filmagens conturbadas o filme não foi finalizado e estourou muito o orçamento proposto inicialmente.

Em uma reportagem da folha conta que ele aproveitou muito o carnaval do Rio de Janeiro com lança perfume e muita bebida (para acessar a matéria completa basta clicar na foto).

Orson iria participar do filme interpretando ele mesmo, narrando as histórias que ocorreriam no México, Brasil, Peru ou sobre a origem do jazz o filme se chamaria It's All True (É tudo verdade, na versão em português) em 1993 foi lançada uma edição documentário do filme chamada It's All True - Um filme inacabado de Orson Welles.

Orson ao centro curtindo o bailinho de carnaval em 1942




Tá, mas e a Mistura de Cachaça e Coca-cola?


Não é enrolação é contextualização, então com todas essas informações é possível afirmar que a coca-cola somente chegou ao Brasil quando o Estados Unidos entrou na guerra.

Com os E.U.A. atrás de material que a guerra demandava (Brasil ajudou muito com borracha por exemplo) e a busca por países para se juntar aos Aliados , somando as políticas de boa vizinhança de Rooselvet, muito bem executadas por sinal, embarcamos na guerra ao lado dos Aliados graças aos estado-unidenses. 

Orson Welles é creditado por seus bibliógrafos, Simon Callow e Catherine L. Benamou por ser uma das primeiras pessoas a trazer coca-cola para o Brasil e mais do que isso misturar cachaça com coca-cola, Welles gostava de tomar deste jeito sua cachaça. Catherine afirma em seu livro "It's All True: Orson Welles's Pan American Odyssey" que Welles nomeou a mistura de Samba em Berlim e que posteriormente Luiz de Barros inspirou-se para dar nome a sua chanchada, durante suas filmagens no Rio de Janeiro era possível encontrar Orson tomando Samba em Berlim no famoso Cassino da Urca onde dizem que Grande Otelo apresentou a cachaça para Welles.

Adicionar cachaça em um copo de coca-cola era algo que se tornou muito natural, um exemplo que a diplomacia uniu, nós enxergávamos naquele contexto os E.U.A. como amigos de fato o copo com esses dois líquidos pode representar a união destas duas culturas e mais do que isso mostrar uma união contra o fascismo eminente daquele tempo.

Outra versão diz que os Pracinhas já tomavam Samba em Berlim por conta dos abastecimentos de coca-cola dos estado-unidenses e quando chegou aqui a mistura só ficou conhecida como samba, mas nas pesquisas que fiz não encontrei nenhuma evidência deste tipo de consumo, mas é possível ter acontecido sem nenhum documento ou registro, mas as relações entre as tropas não eram das melhores entre o próprio exército dos E.U.A. existia uma tensão racial muito forte e para muitos historiadores a F.E.B. era vista como inferior pois tinha menos experiência de guerra,o que dificultaria a interação, mas provou ao contrário depois de prender milhares de nazistas em uma longa batalha no Monte Castelo.

Bom se você chegou até aqui depois ter acompanhado toda a primeira parte, tem como recompensa a receita desta mistura, mas com certeza você já sabe, então não tem recompensa? tem sim o conhecimento.





Receita

Ingredientes

  • 50 ml Cachaça de Alambique (aconselho envelhecida em bálsamo)
  • 15 ml sumo limão taiti (opcional)
  • 120 ml Coca-cola 
Preparo

Em um copo longo, adicione bastante gelo, adicione a cachaça o limão, misture bem, complete com coca-cola, decore com limão cortado em cunha.


Em um livreto de receitas da Pirelli de 1977 ainda é possível encontrar um drinque chamado Rio Samba que contém os mesmo ingredientes.



Lembrar nossa história na coquetelaria e mostrar que sempre devemos lutar contra o fascismo foi o objetivo desta postagem. 

Você já conhecia a história deste drinque?

Rio Samba, Samba ou Samba em Berlim é com certeza um drinque que merece ser lembrado. 

 



 





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